quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Fecha os olhos...

...sou seu anjo! E sinta o amor que eu tenho pra te dar ♫

Enquanto eu a olho aqui de cima, sinto meu coração doer, se é que isso é possível afinal, estou morto!
Pois é... e a parte mais difícil de estar morto, é ter que olhá-la de longe, enquanto ela chora diante de minha lápide, como se não pudesse acreditar no que lê. E então eu fecho os olhos e me lembro de tudo o que passamos juntos.

Eu vejo um casal, sentado embaixo de um guarda-sol na praia, no exato lugar onde se conheceram dois anos antes, abraçados enquanto riem e trocam juras de amor.
"Promete que vai ficar ao meu lado para sempre?", ela pergunta, enquanto enrosca nossos dedos.
"Claro que eu prometo!", e eu falava sério! Nunca imaginei que o inevitável fosse acontecer (ao menos não tão cedo). Eu sorri e nos beijamos.
Aquele beijo... minha linda menina que tanto sinto falta.

Ainda de olhos fechados, me lembrei de nossas brigas. Eram raras, mas quando aconteciam, eram as piores. Gritávamos palavras sem sentido, utilizando argumentos de vidas passadas se fosse preciso, só para não deixar o outro 'vencer'. Como eu me arrependo! Ela sempre foi tão inocente e eu dizia coisas terríveis para fazê-la se sentir mal. Funcionava! Mas eu logo acabava pedindo perdão por ser um babaca... e ela sempre me perdoou! E a verdade é que, até das brigas eu sinto falta... do abraço de reconciliação, dos seus olhos brilhando ao ouvir minhas desculpas... É, eu sinto muita falta disso!

Como eu queria estar sonhando. Abrir os olhos e ver que ela está dormindo nos meus braços, toda enroscada em mim, como sempre foi e como sempre deveria ser... Mas ao abrir meus olhos, só vejo branco e ao olhar para baixo, novamente a vejo chorar em minha lápide. Quem diria que já faz um ano que morri? E aqui está ela! Dia após dia, sempre com uma rosa branca nas mãos, para repor a do dia anterior e sempre chorando por mim... belo noivo que sou! Então novamente fecho meus olhos e depois de centenas de imagens de nossos momentos felizes, eu me lembro do nosso último dia juntos... o mesmo dia em que faleci.

Me vejo atravessando a rua até o restaurante onde ela me esperava, mais linda do que nunca! Ela me viu de longe e acenou como a doidinha que sempre foi. Eu só pude rir e beijá-la quando cheguei perto o suficiente para isso. Foi um beijo diferente! Como se no fundo, soubéssemos o que ia acontecer dali a algumas horas. Passamos o dia juntos, como sempre, conversado sobre o futuro, sobre o nosso casamento que nunca ocorreu... trocamos carinhos, nos beijamos como se o mundo fosse acabar. Irônico, não acha? No fim do dia, não poderíamos estar mais felizes! Deixei-a em casa e decidi ir andando para a minha, já que eu sempre gostei de andar. Sim, eu tinha um carro, mas nós gostávamos de andar, então só saiamos de carro quando estava chovendo... às vezes, nem assim. Já era tarde e ela insistiu que eu pegasse um ônibus para casa. Eu prometi pegar, mas não peguei. A dois quarteirões da casa dela, e a cinco da minha, um carro desgovernado me atropelou na calçada e fugiu sem prestar socorro. Não sei quanto tempo fiquei lá, deitado em uma posição esquisita sangrando, até que um casal passou e me viu... eu ainda me lembro do grito da garota ao me ver... Chamaram a polícia e o SAMU, mas demoraram muito... eu não sentia meu corpo, não conseguia me mexer e tudo o que sentia eram as lágrimas saindo dos meus olhos. Eu poderia ter pego um ônibus, não poderia? Poderia ter ouvido o meu amor, não poderia? Poderia! Mas não o fiz... e então, não suportei. Eu tentei, juro que tentei ficar acordado, vivo por ela! Mas fui fraco e jamais me perdoarei por isso... Lembro que antes de morrer, eu vi o sorriso dela, seus olhos e sua voz me chamando tão distante...

Abri os olhos e novamente não era um sonho e muito menos um pesadelo. Ela ainda chora, mas não tanto... Isso significa que ela está prestes à ir embora. Ela ainda usa a aliança de noivado que lhe dei.
"Você tinha prometido!", ouvi ela dizer enquanto fechava os olhos lentamente. Era a primeira vez que ela 'falava' comigo desde a minha morte. Como senti falta da sua voz...
Desejei mais que tudo poder tocá-la, abraçá-la e não largá-la nunca mais enquanto pedia perdão. Não pude! Tudo o que pude fazer foi sussurrar e esperar que ela me ouvisse.
"Eu sempre estarei com você! Não fisicamente, mas hei! Eu sou seu anjo."
Não sei se ela me ouviu, mas eu a vi sorrir pela primeira vez em um ano! E então percebi que ela pode não ter me ouvido... mas ela me sentiu e entendeu que eu nunca a deixaria só e que sempre a amaria. SEMPRE!



Texto baseado na música Linda Menina, escrita por Jey Vieira.

2 comentários:

  1. Esse texto me lembrou de meus próprios textos quando eu era mais nova, Carol: cheio de dramaticidade e até esperança!

    Adorei!

    Um beijo, querida!

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